31 de agosto de 2010

Entra na Roda


Havia num certo lugar um menino chamado Juventude.
Juventude era agitado, feliz, cheio de energia.
Juventude caminhava, caminhava e nunca sabia ao certo para onde ia.
Certo dia numa de suas intensas aventuras ele viu um grande círculo.
O círculo que juventude viu era composto por diversas pessoas e girava com certa leveza.
Juventude estranhou, achou aquilo bem sem sentido, mas ficou curioso.
Sem pensar duas vezes, Juventude cutucou um homem do círculo e perguntou por que estavam fazendo aquilo e qual a finalidade.
O homem olhou para Juventude e disse que estavam numa roda chamada “Roda da Vida” celebrando a união e contemplando as lutas pelas quais deviam lutar.
Juventude ficou mais encabulado ainda.
Fez outra pergunta: - que lutas são essas?
O homem que não parava de girar e, portanto, trazia Juventude junto de si deixando-o tonto disse que eram lutas por um Mundo melhor.
Juventude não entendia nada e dessa vez questionou a si mesmo se era possível um mundo melhor.
Mais curioso ainda e tonto de seguir o homem que não parava de girar, Juventude fez outra pergunta: - é possível construir um mundo melhor através de uma roda?
O homem dessa vez somente disse: - claro! Entre na roda com a gente!
Juventude estava curioso e entrou.
Viu rostos diversos, homens, mulheres, negros, índios, brancos, povos diversificados, roupas variadas.
Todos, embora diferentes, seguiam o mesmo ritmo, a mesma vontade que os levava até ali.
Juventude então olhou pro centro e teve uma grande surpresa: viu um bebê.
O bebê era magro, estava sujo, tremia de frio, podia-se dizer que estava à beira da morte.
Juventude se espantou e perguntou por que aquele menino estava daquele jeito e ninguém fazia nada.
Foi então que uma mulher disse a ele: - esse bebê se chama Mundo. Ele está bastante doente e precisa de ajuda. Estamos girando para aquecê-lo com nossa roda. Precisamos salvá-lo e temos de pensar em várias maneiras de fazer isso. Cada um terá uma responsabilidade para com o Mundo, ele terá de crescer forte, inteligente, saudável. Sozinho ninguém é capaz, por isso nos ajude também e faça o Mundo melhor, ele precisa de você.
Juventude se sensibilizou. Mundo precisava dele.
A partir daí, Juventude estava sempre na roda aquecendo o Mundo para que ele não padecesse de frio. A maioria sequer olhava para aquele bebê. Mas os membros da “Roda da Vida” sabiam a importância de seu giro incansável...
Mas Juventude começou a acreditar que era possível fazer de Mundo um bebê melhor e se comprometeu para aquela luta.
Juventude abraçou o mundo e começou a lutar por ele dentro da roda da vida de onde nunca mais saiu... A partir daí sua vida fez sentido.


* Texto feito para o Encontro "Entra na Roda" do Colégio Santo Agostinho de Belo Horizonte que eu tive o imenso prazer de participar e utilizar o escrito acima.

11 de agosto de 2010

“Conhecer o outro é acima de tudo dar-se a conhecer!”

A confiança nasce pelo encontro do amor, um encontro no tecer da vida. Na caminhada da nossa existência é que vamos nos encontrando com as pessoas, e a conquista da confiança do outro exige de nós uma atitude crescente de recomeçar sempre, leva certo tempo. Não se confia em alguém de forma mágica, é preciso conhecer, dar-se a conhecer. A confiança é fruto que nasce da experiência do encontro de duas pessoas. Quando falo de encontro, lembro-me das experiências dos encontros na vida de Jesus com tantas pessoas: a Samaritana, o cego de Jericó, a mulher adúltera, encontros que nasceram de um amor gratuito. Ele que foi capaz de ver aquelas pessoas naquilo que as faziam ser únicas, um encontro de amor que foi capaz de trazer para fora o melhor que eles poderiam ter dentro de si. A Confiança necessita de tempo, não se confia em alguém da noite pro dia, tudo passa pela linha do processo de aceitação daquilo que o outro é, mesmo com os seus limites e defeitos. Não é uma coisa fácil, é trabalho interior, exige certo autodomínio. Por isso, é preciso partilha, transparência, aceitação das diferenças. Confiar é um grande desafio para o mundo de hoje, mas acima de tudo uma verdadeira conquista valiosa!

Luciano Pimenta de Morais
1º ano de Filosofia/PUC Minas BH
Seminário Nossa Senhora de Oliveira


Esse texto, escrito pelo grande amigo Luciano Pimenta, é de grande valor aqui no blog. Pude conhecer seu autor na caminhada de igreja, especificamente na Pastoral da Juventude. Foram encontros, partilhas, conversas, risos. O conhecer se fez, assim como ele diz acima, e, hoje, partilho com ele uma grande amizade.
Em breve ele terá seu blog também e, com certeza, será fantástico.
Que Deus nos anime a caminhar felizes levando a boa-nova a todos e que a caminhada vocacional de Luciano seja frutífera e de muito sucesso!
Todos juntos formando um só coração...

3 de agosto de 2010

Pedacinho do Reino de Deus




Eram seis da manhã. O sono tomava conta, mas eu precisava me levantar. Era dia de visitar o Movimento dos trabalhadores rurais sem terra do Brasil e eu, certamente, não perderia a visita.
Primeiro o café da manhã, depois a oração e a partilha de vida. Turma reunida e o ônibus chegando. Euforia, alegria, curiosidade, receios...
Viagem longa, mas tranquila.
Nas tortuosas estradas de terra ao longe avistamos uma espécie de grande torre e lá no alto um ponto vermelho. Era a bandeira do movimento, o assentamento "Roximin" estava próximo.
Ao chegar nada de tendas, barracas e aglomeração. Um grande barraco apenas, bastante velho, com algumas pessoas trabalhando.
A galera jovem pejoteira adentrou o recinto. A curiosidade era grande. Muita cana de açúcar se via.
Mais adiante ainda algumas máquinas exalando vapor onde se produzia rapadura e melado. A cana não estava ali a toa.
Pessoas começavam a aparecer. Os assentados se vestiam humildemente. Eram pessoas comuns, não portavam armas como se pensam por aí. Estavam com mãos calejadas, o trabalho era árduo.
Numa roda de conversa grandes surpresas apareciam. Os trabalhadores que ocupam e não invadem eram cultos. Sabiam de política, tinham consciência global e entendiam de legislação. Sabiam pelo que lutavam.
Mais de quarenta famílias na labuta diária partilhavam os dons da terra. Eram respeitosos. Plantavam, colhiam, partilhavam, produziam derivados. Solidariamente eram felizes, embora a estrutura os massacre nas palavras, nas leis e fortalecidas em um história de insjustiças.
Por que que lá fora não pode ser assim? Por que cada um não pode ter seu pedacinho de terra para plantar e comer? Por que que uns têm mais e outros não têm nada? Por que que ninguém partilha?
Depois os ruins são quem lutam pela igualdade...
A maior crise é a de valores.
Essas pessoas que conheci, dentre elas, crianças, lutarão sempre. Não sei quando a vitória chegará. Mas ela se constrói no dia a dia. São felizes porque colocaram sentido na vida.
A utopia sempre estará pulsando no coração de quem acredita.
Ali no assentamento "Roximin" perto de sei lá onde ela vive e faz de um pequeno lugar um pedaço do Reino de Deus, onde a libertação acontece na partilha, no respeito e na justiça.
Viva a rapadura!
Viva a cachaça!
Viva o MST!

* Em referência à visita ao assentamento do MST feita por parte dos jovens participanres do Curso de Inverno 2010