Confronto: sinal da ausência de diálogo |
A questão da USP é
séria, muito séria. Há quem defende a presença de policiais em uma
universidade. Os manifestantes defendem a saída da polícia. Consideram-na um
obstáculo para a livre manifestação política no espaço acadêmico. Um embate
entre os considerados subversivos e aqueles que se colocam como defensores da
ordem.
Os defensores da ordem se esquecem que a polícia não
representa necessariamente ordem. Sua presença não significa necessariamente
segurança. Não cabe a quem quer que seja generalizar, até porque a polícia
merece o respeito da sociedade em muitos casos. Porém, o Estado que quer se
fazer presente com sua força armada numa universidade se ausenta em inúmeros
casos de sua obrigatória função.
Onde está a polícia quando acontecem os arrastões nos
grandes centros? Onde está a polícia quando entram indiscriminadamente as
drogas nas fronteiras? Onde está o Estado que não garante segurança na maioria
das favelas brasileiras? Onde está a polícia nos bairros, ruas e becos de
nossas cidades? Certamente o Estado se ausenta na maioria dos casos... Por que
então marcar presença na USP?
Segurança numa universidade deve ser ação conjunta. Não
basta colocar policias ali. Especialmente num espaço onde devem ser discutidos
caminhos de consenso, de diálogo e de construção social através da academia. O
Estado foi sim imediatista e irresponsável reduzindo a questão a seu
patrulhamento especial.
Aí veio o caso da maconha. Certamente quem estuda numa
universidade pública deveria no mínimo respeitar a sociedade pela qual ela
adentra aquele prédio público, ponto. Porém, não pode ser saudável que três
maconheiros paguem um preço que milhares de espúrios traficantes jamais pagarão
num país onde a droga rola solta. Maconheiro para burguês é marginal. Mas
marginal de verdade não é cassado, não é humilhado, não apanha e nem é
incomodado.
Enquanto os cigarrinhos naturebas da maconha são presos
na USP e geram um desconforto social, muitos jovens morrem nas mãos da desastrosa
política liberal que exclui, desordena e deixa a grande maioria dos cidadãos as
margens da sociedade.
O que defendo aqui não são estudantes, nem polícia e nem
Estado. Apenas defendo um verdadeiro DIÁLOGO. Repudio depredação pública, bem
como a violência contra estudantes que, por mais controvérsias que haja, não
são bandidos frente a uma sociedade que conhecemos bem. Deve haver diálogo
entre estudantes, professores, técnicos, reitor, sociedade e governo. Polícia
por si só não resolve nada. Apenas marca um triste dejavú de um tempo em que
tudo era resolvido na repressão.
Quando tudo se calar, o mundo abaixar a cabeça e
estabelecermos uma paz armada na sociedade será tarde demais. Parabéns aos
bravos alunos que resistem diante de suas opiniões. A liberdade de expressão
deve ser uma prerrogativa de todos os centros. Liberdade que se faz com debate
e não com força bruta.
E para aqueles que se indignaram com a maconha eu lembro:
há centenas de cracolândias pelos Brasil sem o devido olhar do Estado. E mesmo
eu, que sou contra qualquer droga, tenho que reconhecer: enquanto houver essa
incoerência política desse perverso sistema não defenderei atos violentos
contra três alunos quando se têm milhões morrendo sem educação, sem instrução,
sem amparo e, muito menos, sem universidade...