3 de agosto de 2010
Pedacinho do Reino de Deus
Eram seis da manhã. O sono tomava conta, mas eu precisava me levantar. Era dia de visitar o Movimento dos trabalhadores rurais sem terra do Brasil e eu, certamente, não perderia a visita.
Primeiro o café da manhã, depois a oração e a partilha de vida. Turma reunida e o ônibus chegando. Euforia, alegria, curiosidade, receios...
Viagem longa, mas tranquila.
Nas tortuosas estradas de terra ao longe avistamos uma espécie de grande torre e lá no alto um ponto vermelho. Era a bandeira do movimento, o assentamento "Roximin" estava próximo.
Ao chegar nada de tendas, barracas e aglomeração. Um grande barraco apenas, bastante velho, com algumas pessoas trabalhando.
A galera jovem pejoteira adentrou o recinto. A curiosidade era grande. Muita cana de açúcar se via.
Mais adiante ainda algumas máquinas exalando vapor onde se produzia rapadura e melado. A cana não estava ali a toa.
Pessoas começavam a aparecer. Os assentados se vestiam humildemente. Eram pessoas comuns, não portavam armas como se pensam por aí. Estavam com mãos calejadas, o trabalho era árduo.
Numa roda de conversa grandes surpresas apareciam. Os trabalhadores que ocupam e não invadem eram cultos. Sabiam de política, tinham consciência global e entendiam de legislação. Sabiam pelo que lutavam.
Mais de quarenta famílias na labuta diária partilhavam os dons da terra. Eram respeitosos. Plantavam, colhiam, partilhavam, produziam derivados. Solidariamente eram felizes, embora a estrutura os massacre nas palavras, nas leis e fortalecidas em um história de insjustiças.
Por que que lá fora não pode ser assim? Por que cada um não pode ter seu pedacinho de terra para plantar e comer? Por que que uns têm mais e outros não têm nada? Por que que ninguém partilha?
Depois os ruins são quem lutam pela igualdade...
A maior crise é a de valores.
Essas pessoas que conheci, dentre elas, crianças, lutarão sempre. Não sei quando a vitória chegará. Mas ela se constrói no dia a dia. São felizes porque colocaram sentido na vida.
A utopia sempre estará pulsando no coração de quem acredita.
Ali no assentamento "Roximin" perto de sei lá onde ela vive e faz de um pequeno lugar um pedaço do Reino de Deus, onde a libertação acontece na partilha, no respeito e na justiça.
Viva a rapadura!
Viva a cachaça!
Viva o MST!
* Em referência à visita ao assentamento do MST feita por parte dos jovens participanres do Curso de Inverno 2010
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